segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Aberta a estação de caça às pessoas sorriem.


Muitas notícias foram veiculadas das mais diversas formas sobre os fatos acontecidos no último domingo (05/03/12) no Largo da Ordem, em Curitiba. O bloco Garibaldis e Sacis promove um dos eventos mais tradicionais no âmbito da cultura popular na cidade. Pessoas de todas as idades, cores e classes festejam durante os quatro domingos que antecedem o carnaval na festa mais plural, colorida e feliz que se pode fazer ao ar livre, sob um céu maravilhosamente azul, aquecidos pela batida da bateria e pelo sol que vem junto com os foliões alegrar as ruas dessa cidade cinza por natureza.

As cores foram embora, entretanto, quando tiros começaram a vir de repente e toda a multidão correu na mesma direção, como um bando de animais que estavam sendo caçados – sim, é assim que eu me senti, como um animal sendo caçado! O bloco tinha acabado a apresentação e os músicos estavam recolhendo seus equipamentos. Passado isso, as pessoas permaneceram na rua porque ainda cantávamos e festejavamos porque a noite estava extremamente agradável para ficar ao ar livre. Ouvimos, então, um som muito forte que pensamos ser rojões, mas com a repetição destes e com os gritos da multidão, percebemos que se tratava de algo muito mais grave. No local estavam famílias, grávidas, cadeirantes, estudantes, foliões, PESSOAS! Ninguém escapou da repressão policial. Em menos de cinco minutos a musica parou e só podíamos encontrar as pessoas pelo choro e pelos gritos. Uma nuvem de gás tomou conta de todo o local e fomos para o mais longe que podíamos. A multidão de foliões se dispersava, mas os homens da RONE (Rondas Ostensivas de Naturezas Especiais) continuavam a atirar na nossa direção com balas de borracha e gás de efeito moral. Meus olhos ardiam e sentia minha pele queimar. Não conseguia ver muito bem o que acontecia, mas o som dos gritos de pessoas inocentes é algo que vai ficar na minha cabeça por muito tempo. Carregamos um amigo que não conseguia respirar por conta do gás, ao mesmo tempo em que ligávamos para outros amigos que estavam perdidos no meio da barbárie.

Em vinte minutos de ação, todas as entradas do Largo da Ordem estavam bloqueadas por pelo menos três viaturas em cada esquina, sendo que entre as viaturas estavam algumas da Guarda Municipal, da RONE e da Polícia Militar.

Durante todo o período que antecedeu o evento, acompanhamos via algumas redes sociais o esforço dos organizadores do bloco para conseguir mais estrutura para a realização do evento, incluindo, claro, reforço na segurança. Há notícias de que haviam 20 policias fazendo a ronda no evento, que tinha mais de 5 mil pessoas. Eu, particularmente, não vi nenhum. Mais uma vez vemos o descaso das instituições já falidas do nosso sistema, que preferem punir todos os presentes a estar de forma efetiva no evento, fazendo um trabalho preventido a situações de vandalismo ou qualquer outra que atentasse contra a ordem no espaço. Prefere-se sempre a barbárie como forma de resolução dos problemas. Talvez algo que me doa muito também, seja o fato de que algumas pessoas ainda acham certo reprimir uma multidão pacífica em um ato claramente premeditado, balear e hospitalizar a todos, para que a “ordem” seja reestabelecida.

Esse relato foi escrito por mim, mas está carregado por opiniões e angústias de outras tantas pessoas que estavam lá ou que simplesmente se sensibilizaram com o ocorrido. Curitiba é uma cidade que ostenta muitos rótulos. É uma cidade onde colocar música classica no transporte coletivo é a forma de propagação da dita “cultura”. Voltamos, como muitos disseram, à ditadura. Temos novamente um toque de recolher e uma cidade cinza – cinza na infelicidade das pessoas, na truculência do governo, da polícia e dos “poderosos, mas vermelha no sangue de inocentes que foi derramado, na nossa indignação e na força que tiramos disso para continuarmos lutando!

Júlio Marques

Universitário, curitibano, folião, cidadão, HUMANO.