Vivemos em um mundo onde todos tentam ostentar uma excelência intelectual, os melhores padroes educacionais, os melhores índices de desenvolvimento econômico e tecnológico, o melhor isso e o melhor aquilo, mas se paramos para uma breve olhada no ambiente a nossa volta, percebemos que a realidade nao é exatamente assim, e sim isso pode ser um grande lugar comum, mas um lugar comum ainda muito latente em nossa sociedade.
Índios e negros foram usados no inicio dos processos de conquista e de “civilizacao” como mao de obra e como moeda, estiveram submetidos a todo tipo de humilhacao e a todo tipo de atividades em condiçoes sub humanas, porque nem ao menos eram humanos; animais sem alma e adoradores de demônios em rituais profanos. Por que dizer estas coisas tao batidas e de conhecimento comum? –Só para garantir que isso estaria fresco na sua memória enquanto você lesse o restante do texto.
Recém, aliás, agora a pouco, vi uma reportagem de um noticiário argentino que tratava justamente da questao do preconceito com turista de origem afro e indígena. O repórter conduzia o recolhimento de filmagens com câmeras escondidas, indo até hoteis com quartos disponiveis, consultados previamente via telefone; um ator negro, interpretando um turista, vai até esses hoteis e recebe uma sequência de negativas com relaçao à disponibilidade de quartos; nos mesmos hoteis, minutos depois, um ator branco procede da mesma forma, porém com uma receptiva totalmente diferente em todos os estabelecimentos: incrivelmente, em menos de 15 minutos, vagaram quartos em todos eles. Coincidência?
Situado, ilustrado e devidamente problematizado, passemos ao ato propriamente dito. Qual o interesse do público a quem esse texto é endereçado? Primeiramente escrevo para seres humanos dotados, imagino, de consciência do que acontece a sua volta, pessoas que lidam com pessoas diariamente, profissionalmente, academicamente, socialmente. Conto: Quando embarquei nessa oportunidade de intercâmbio no Paraguai, tinha outros objetivos maiores que o acadêmico, porque nesse ponto estou muito melhor servido em minha universidade de origem; no aspecto profissional, talvez, porque com certeza uma experiêcia no exterior enriquece o currículo de qualquer um; o meu objetivo maior estava na dificuldades e superaçoes que isso me traria no nivel pessoal. No final do ano de 2008 tive a oportunidade de apresentar um trabalho acadêmico na Universidad Nacional del Nordeste (UNNE), na Argentina, e, aproveitando a proximidade, pude visitar a uma amiga que participava do mesmo programa de intercâmbio no Paraguai e estivemos aí em Assunçao por alguns dias aproveitando o calor que fazia no final do segundo semestre.
Pois bem, quando chegamos da Argentina fomos até a casa onde ela alugava um quarto, afim de descansar da viagem e deixar a pesada bagagem. Nenhum problema inicialmente. Inicialmente. Me recostei na cama e cochilei. Acordei tempos depois com a minha amiga em prantos: a senhora de quem alugava o quarto disse que nao me queria na casa dela por ser negro e que, por sê-lo, iria roubar a casa dela e uma série de outras barbaridades das quais prefiro poupá-los. Saimos da casa e, felizmente, na mesma proporçao em que existem pessoas medíocres, existem pessoas ótimas, com as quais pude/pudemos contar.
Qual o objetivo entao de ir mais uma vez para este país onde tive essa experiência tao problemática e traumatizante? Simples: superaçao. Penso que apesar de todo tipo de coisa que viesse a acontecer por consequència da minha escolha, estava/estou disposto a correr o risco. Disposto a correr os riscos de viver em um país tradicionalista, em uma cultura, justificando-se por isso, racista, machista e homofóbica; estou disposto a tirar o melhor dessa experiência e aproveitar ao máximo os momentos com as pessoas que tem visoes coerentes sobre o mundo. Estou cansado de ligar a televisao e todo o tempo me deparar com noticias de violência por parte de grupos neonazistas e de outros tantos grupos que cultuam a intolerância como maior, senao único, objetivo de vida.
Quero olhar para o lado e me deparar somente com pessoas que tenham o mínimo de esclarecimento e de consciência de que a tolerância é o caminho.
Vivamos a utopia!
quinta-feira, 22 de outubro de 2009
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Um comentário:
Negro não é incapaz, gay não é mocinha, e preconceito não tem fundamento.
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